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A joia, o ourives e outras pérolas

Carla Maria de Souza

Muitas vezes, os alunos contavam histórias, falavam de cenas vistas na televisão, os fatos vinham de uma forma ou de outra ao meu cotidiano e minha opinião era expressa da forma que era possível.

Boa parte das pessoas cegas tem certo preconceito com o uso da bengala, muita gente que não conhece a realidade do cego acredita que somos pessoas geniais, capazes de coisas incríveis, ou então que não somos capazes do básico. Mas nem sempre os cegos retratados em personagens nas obras de ficção ajudam a desmistificar essas ideias – pelo contrário, reforçam-nas.

Além das questões envolvidas naquilo que alguns de nós chamamos de “mundo cegal”, há as inerentes a outros mundos: o daqueles que vivem em comunidades, o dos adolescentes, o dos que não conseguem destaque na escola, o dos filhos de pais separados...

Sempre achei, provavelmente por ser professora de português, que não há melhor meio de se trabalhar com crianças do que contando histórias. E, como no Instituto Benjamin Constant, escola onde trabalho, publica-se uma revista infantojuvenil voltada para o público cego, achei este um bom meio para atingir meus alunos e outras crianças cegas com meus textos.

Assim nasceram a Bernadete, a Daniela, a Elisa e outros personagens que vocês vão encontrar neste volume, que é um conjunto de microcontos e dois contos/novelas.

Como uma coisa puxa a outra, surgiram na mente textos maiores, que não caberiam nem na publicação infantojuvenil, nem na de adultos. Então, estes textos estavam sem função.

E para que escrever se ninguém vai ler?

Entendi que estava na hora de alçar voos mais altos e pensei na publicação de tudo o que havia produzido, não só para os cegos mas para quem quisesse refletir sobre preconceito, situações de vida, esforço pessoal, família e tudo o mais que vocês vão encontrar aqui.

Queria, porém, que fosse uma reflexão leve, sem desespero, sem cobranças, mas com a minha marca, as minhas ideias.

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